quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Amante do surrealismo

Sinta a música como uma onda que te leva para o mar azul. Sinta a música te agitar, como o vento que sopra em tempos nublados. Faça do momento o primeiro ao abrir os olhos, e o último de um suspiro. Sorria, cante, grite para o mundo o que te prende, o que te sufoca, o que está guardado na mais profunda memória. Ah, a memória. Relativa quanto à vida, relativa quanto às situações. Tão sábia junto à consciência, mas vilã junto ao coração. As notas pairam no ar, sem rumo, sem caminho. Parecem perdidas, mas compõem uma sincronia tão perfeita, tão viva. Vejo claves de sol, ré, si-bemol, dó-menor, lá-maior... Cores! Ah, cromolândia, sinestesia! Qual a graça do ritmo sem cores? O grave, por ser grave, dramatizado, chora por vermelho, mas pela intensidade, faz jus ao tom de preto. O agudo, teimoso que é, insiste pelo amarelo, forte e imponente, mas recebe da aquarela, que compõe a cena, o verde-água de um mar, estranhamente, musical. Partituras interagem com os outros sentidos, não menos importantes, tampouco excluídos. Tato, olfato, paladar... As peles que se tocam ao dançar da música, os lábios que se fundem ao sabor da melodia. O amargo da boca nasce com mi-menor entrando em cena. Logo o doce, contudo, surge para alegrar as boas almas, que, ao som de fá, degustam as últimas falas desse arranjo surreal.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Fluxo de consciência

Há alguns anos (5-6 anos), vi um filme que me fez ficar horas refletindo sobre a vida, sobre as nossas escolhas e como elas podem se convergir com as dos outros que nos rodeiam. "Mr. Nobody" era o nome dele. Eu senti uma necessidade imensa de escrever. Foram 5 minutos de completo fluxo de consciência. Clarice Lispector poderia até me criticar pela escrita, mas foi tudo o que pude fazer. Além disso, para fluxos de consciência não há regras, não há certo ou errado. As ideias apenas surgem. Posto, então, meus textos escritos naquele dia: "Há sempre um momento em que resolvemos escrever. Por algum motivo é necessário escrever, expor todas as suas idéias, liberar as minhocas que perambulam e gritam para sair. É preciso soltá-las, e deixá-las encontrar o caminho. É estranho pensar que algo sempre ocorre devido a outro fato. Se hoje eu não sair de casa, algo pode acontecer, ou posso evitar que algo aconteça. Pode chover e eu não me molhar. Ou haverá um sol, e as mais belas flores surgirão. Posso perder o par perfeito, ou apenas deixar de sofrer. É estranho pensar que a vida é feita de escolhas, e a sua escolha de hoje, afetará na atitude de amanhã. Como um efeito dominó: basta errar em uma peça, que todas cairão em seguida. Mas como acertar? Como saber se a escolha feita é realmente a certa? Será que existe a certa? Ou tudo depende de um ponto de vista sobre a situação? É estranho pensarmos que podemos decidir o nosso próprio caminho. Podemos escrever a nossa história sem nem ao menos percebermos. Achamos que alguém está escrevendo-a, e não nos damos conta que somos nós mesmos. Às vezes achamos mais conveniente encontrar um autor para o nosso futuro. Se a decisão causou perturbações, foi o destino que nos pregou uma peça. Era algo que estava escrito e não podia ser mudado. Errado. A encruzilhada estava ali, bastou o primeiro passo, e tudo começou a desabar como um castelo de cartas. Sem rumo, precisamos de ajuda, precisamos entender porque tudo aconteceu de maneira diferente. Por que daquela forma? Outras escolhas foram feitas, outras pessoas precisaram decidir seus caminhos e tudo está interligado. Eis aqui uma contradição. Podemos escrever a nossa história, mas não podemos descobrir o que cada um escreverá na sua. Como será o fim? Haverá um fim? Ou é necessário apenas juntarmos todos os fins e encontrarmos a parte em comum? Talvez esta seja a solução, ou apenas o início de uma nova incógnita." "Eu não sei se sou assim porque quero, ou porque meus genes exigem assim. É difícil entender situações que ocorrem, quando na verdade desejaríamos que nada tivesse acontecido. Prever o futuro seria um dom, capaz de ajudar, e ao mesmo tempo atrapalhar. Saber se morrerei amanhã, ou atingirei a imortalidade. É preciso conhecer, aprender, pesquisar. Saber se meu código genético produzirá aquela proteína, que formará aquela enzima. Aquela. Essencial para viver, essencial para estar aqui. Impossível. Nunca saberei. Só quero compreender porque estou aqui. Por que tudo não pode ser diferente? Por que não posso ser diferente? Quem sabe o erro está em mim, ou até no próprio mundo. Todos querem mudanças, todos exigem mudanças. Mas não posso, não consigo. Acompanhar leva muito tempo, e meu corpo está cansado. Preciso levantar e buscar um caminho. Talvez incerto. Talvez previsível. A resposta está ali, mas é difícil enxergar. Está tão clara, tão óbvia, que se torna complicada de entender. Às vezes é preciso mudar para ver."

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Energias universais, Sartre, música... Eis uma bela manhã de sábado!

E hoje eu acordei com um sentimento diferente, uma sensação inusitada. Apesar de estar com um torcicolo, uma dor irritante em um dos músculos do pescoço (não me pergunte qual!), sinto uma felicidade interessante. Ontem conversei com uma amiga sobre as energias que recebemos do mundo e transmitimos para ele. Há um tempo (um ou dois anos), uma pessoa especial tentou me convencer e acreditar nessa "magia invisível", mas, várias vezes, me neguei a ouvi-la, e carreguei, por muito tempo, pessimismo e muito pouca autoconfiança. Nesse sábado de céu azul e sol radiante, vejo como fui estúpida. É tão simples e óbvio. Estar ou conversar com alguém que esbanja felicidade e positividade é permitir que sua vida também seja invadida pelos mesmos sentimentos. É ignorar qualquer problema mesquinho e insignificante frente aos vários momentos únicos que a vida (e nós mesmos!) nos proporciona. A vida é tão frágil! Uma fragilidade que não permite demasiadas reclamações. Se o café está frio, esquente-o. Se está chovendo e você não tem um guarda-chuva, paciência! Sinta as gotículas minúsculas baterem em seu rosto como se fizessem parte da última da história do planeta (Não reclame, como eu, se o seu óculos vai ficar todo embaçado haha). Pisaram no seu pé? Esbarraram em você? Releve, sorria! Sinta como estar satisfeito com a vida a torna muito mais tranquila e fácil de ser vivida. Pode ser tão árduo, admito. Sua mente vai desejar reclamações, a impaciência e a impulsividade vão te levar a tomar atitudes estúpidas, inconsequentes, infantis. É um desafio a ser moldado, um novo caminho a ser trilhado. Sartre já dizia que estamos presos ao nosso livre arbítrio, presos às consequências diretas e indiretas de nossas escolhas. Façamos valer, pois, essa liberdade. Convergindo com as boas energias dessa manhã de sábado, ouço a "minha" música, cuja melodia e letra costuram e dão harmonia a essa nova forma de escrita e contexto. Sem dramas ou chateações. Little ghosts, tenham um ótimo sábado! "I wanna turn the whole thing upside down I'll find the things they say just can't be found I'll share this love I find with everyone We'll sing and dance to mother nature's songs I don't want this feeling to go away" Upside Down, by Jack Johnson

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Será?

Há alguns dias, li "O pequeno príncipe" pela primeira vez. Consegui compreender o porquê de tantas pessoas dizerem que todo mundo deveria lê-lo em diferentes fases da vida. No meu caso, pulei a infância, mas sei que, se o tivesse lido, minha interpretação seria bem distinta da de hoje. Antoine de Saint-Exupéry diz, por meio de suas personagens, que, a partir do momento que alguém cativa outro indivíduo, esse torna-se responsável por aquele, uma vez que ambos terão necessidades recíprocas, vontade de estar com o outro. Com a pouca vivência que possuo (míseros 22 anos!), já não acredito fielmente nessa ideia. Acho que essa afirmação talvez seja válida para fases em que o indivíduo não possui tanto poder de discernimento sobre o limite entre espaços pessoais, sobre o tempo disponível de cada um e a diferença entre formalidades e promessas de um possível retorno. Essa fase assemelha-se com a infância. Dizer para uma criança que logo mais você voltará é fazê-la crer, fielmente, em que, em breve, ela terá a honra de sua visita. Isso foi comprovado por mim há alguns dias (para ser mais específica, no natal), quando prometi a meu primo de 8 anos que permitiria a ele usar meu celular quando eu voltasse. Com certeza eu voltaria, mas tinha em mente que, horas depois, ele não mais lembraria de minha promessa. Inocente! A primeira pergunta que me fez logo que me viu foi: "Trouxe seu celular?". Já houve dias em que minha simples companhia era mais significante e interessante do que um jogo estúpido de celular. O fato é que palavras jogadas inocentemente por mim foram agarradas e guardadas fortemente pelo meu primo, assim como moedas de ouro seriam agarradas pelo Siri Queijo. Em minha atual fase, juventude/ adultez, vejo de forma límpida como essa afirmação pode ser errônea e ingênua. Se eu me cativo por alguém pelo simples motivo desse me parecer especial, a maior responsabilidade cabe a mim somente saber das consequências do meu apreço por ele. O indivíduo cativado não é culpado por transmitir simpatia e feromônios. De forma honesta, contudo, esse outrém deve prezar a sinceridade e esclarecer se o "ato de ser cativado" é recíproco. Como sabemos, a humanidade não é ideal, bem longe da utopia. Peço licença, Saint-Exupéry, com toda educação, pois preciso redigir sua citação com detalhes da sociedade contemporânea, quiçá, de todo sempre: "Tu te tornas refém de/por quem foi cativado"(versão dramática), ou "Tu te tornas capacho de quem te cativou"(versão corno-sertaneja), ou "Tu és o único responsável por ser cativado... e por continuar a alimentar esse apego sentimental"(versão Thatiane). Escrevo cartas dramáticas de amor. Às ordens!