segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Fluxo de consciência

Há alguns anos (5-6 anos), vi um filme que me fez ficar horas refletindo sobre a vida, sobre as nossas escolhas e como elas podem se convergir com as dos outros que nos rodeiam. "Mr. Nobody" era o nome dele. Eu senti uma necessidade imensa de escrever. Foram 5 minutos de completo fluxo de consciência. Clarice Lispector poderia até me criticar pela escrita, mas foi tudo o que pude fazer. Além disso, para fluxos de consciência não há regras, não há certo ou errado. As ideias apenas surgem. Posto, então, meus textos escritos naquele dia: "Há sempre um momento em que resolvemos escrever. Por algum motivo é necessário escrever, expor todas as suas idéias, liberar as minhocas que perambulam e gritam para sair. É preciso soltá-las, e deixá-las encontrar o caminho. É estranho pensar que algo sempre ocorre devido a outro fato. Se hoje eu não sair de casa, algo pode acontecer, ou posso evitar que algo aconteça. Pode chover e eu não me molhar. Ou haverá um sol, e as mais belas flores surgirão. Posso perder o par perfeito, ou apenas deixar de sofrer. É estranho pensar que a vida é feita de escolhas, e a sua escolha de hoje, afetará na atitude de amanhã. Como um efeito dominó: basta errar em uma peça, que todas cairão em seguida. Mas como acertar? Como saber se a escolha feita é realmente a certa? Será que existe a certa? Ou tudo depende de um ponto de vista sobre a situação? É estranho pensarmos que podemos decidir o nosso próprio caminho. Podemos escrever a nossa história sem nem ao menos percebermos. Achamos que alguém está escrevendo-a, e não nos damos conta que somos nós mesmos. Às vezes achamos mais conveniente encontrar um autor para o nosso futuro. Se a decisão causou perturbações, foi o destino que nos pregou uma peça. Era algo que estava escrito e não podia ser mudado. Errado. A encruzilhada estava ali, bastou o primeiro passo, e tudo começou a desabar como um castelo de cartas. Sem rumo, precisamos de ajuda, precisamos entender porque tudo aconteceu de maneira diferente. Por que daquela forma? Outras escolhas foram feitas, outras pessoas precisaram decidir seus caminhos e tudo está interligado. Eis aqui uma contradição. Podemos escrever a nossa história, mas não podemos descobrir o que cada um escreverá na sua. Como será o fim? Haverá um fim? Ou é necessário apenas juntarmos todos os fins e encontrarmos a parte em comum? Talvez esta seja a solução, ou apenas o início de uma nova incógnita." "Eu não sei se sou assim porque quero, ou porque meus genes exigem assim. É difícil entender situações que ocorrem, quando na verdade desejaríamos que nada tivesse acontecido. Prever o futuro seria um dom, capaz de ajudar, e ao mesmo tempo atrapalhar. Saber se morrerei amanhã, ou atingirei a imortalidade. É preciso conhecer, aprender, pesquisar. Saber se meu código genético produzirá aquela proteína, que formará aquela enzima. Aquela. Essencial para viver, essencial para estar aqui. Impossível. Nunca saberei. Só quero compreender porque estou aqui. Por que tudo não pode ser diferente? Por que não posso ser diferente? Quem sabe o erro está em mim, ou até no próprio mundo. Todos querem mudanças, todos exigem mudanças. Mas não posso, não consigo. Acompanhar leva muito tempo, e meu corpo está cansado. Preciso levantar e buscar um caminho. Talvez incerto. Talvez previsível. A resposta está ali, mas é difícil enxergar. Está tão clara, tão óbvia, que se torna complicada de entender. Às vezes é preciso mudar para ver."

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