Há alguns
dias, deparei-me com um texto muito interessante compartilhado em uma rede
social. Era um relato de um jovem menino, de 15 anos, se não me falha a
memória, malabarista nos faróis de São Paulo nas horas em que não se encontra
na escola. Ele contava sobre os tantos amigos envolvidos e perdidos para o
tráfico e para o mundo do crime. Segundo ele, o aliciamento para tais
atividades em seu bairro é bem frequente, e não ser uma vítima dele é um grande
desafio. Imagino que para um jovem, como ele, morador de um lugar simples, com
infraestrutura precária e provavelmente sem saneamento básico, ter a
expectativa de um futuro bem sucedido não deve ser algo tão comum. Muitos
adolescentes como ele, por falta de oportunidades, e até mesmo incentivo, veem
a vida passar, e associam a “realidade” da TV, ou até mesmo dos motoristas que
passam por eles, como algo distante, inatingível, mera ilusão para a verdade em
que vive. Em contrapartida, muitos que buscam viver esse “outro mundo”, esse
outro lado da rodovia, e desejam o “sucesso” da multidão engravatada, veem duas
opções em sua comunidade: contribuir com a “boca local”, ou trabalhar em
atividades consideradas lícitas e honestas. A primeira é posta, por seus
aliciadores, como rápida e fácil, já a segunda é progressiva, crônica, exige
paciência. Não cabe a mim julgar qual é a mais efetiva, correta ou incorreta,
prefiro analisar números, dados. É um fato que muitos jovens morrem reféns do
tráfico, seja em função do abuso da polícia, seja pelas mãos dos “donos da
comunidade”. Afastando-me agora da prolixidade, volto ao assunto de fato. Esse
pequeno malabarista disse que trabalhava ali, porque queria algo digno pra si,
e não terminar como seus tantos amigos: em sangue. Ele dizia sobre querer
estudar e trabalhar arduamente para ter uma “carreira de sucesso”, associado,
por ele, como algo que será capaz de proporcionar-lhe carro importado e Iphone.
Podemos perceber, a partir daí, que sua ideia de “sucesso” está claramente
vinculada ao poder de compra, ao “ter”, tão valorizado em nossa sociedade.
Entra aqui o meu questionamento: Em que raios de lugar está nossa sociedade?
Achei lindo e fofo aquele relato até o momento em que percebi quão mesquinhos
somos, como de forma fútil e estúpida, impomos, indiretamente, esse estilo de
vida tão egoísta, seja com nós mesmos, seres humanos, seja com a natureza e
mundo no geral, para aqueles que, simplesmente, não podem consumir da mesma forma,
apesar de até desejarem. Não estou, de forma alguma, excluindo o poder de
discernimento desse jovem, ou considerando-o incapaz de avaliar a própria
escolha, tanto é que optou por outro percurso bem distinto de seus colegas. O
fato é que é inegável a forte influência dos “engravatados” sobre aqueles que
se encontram do outro lado do muro, do outro lado do vidro, do outro lado da
vida. Não repugno as tecnologias e os bens de consumo, já que tais mercadorias
facilitam, sim, nossas vidas, critico apenas seu uso descontrolado e a sua descartabilidade
exacerbada. São tais atitudes que nos tornam mecânicos, dependentes do irreal,
e, paulatinamente, menos humanos. São abusos que criam barreiras invisíveis e
fazem do poder de compra item inerente ao sucesso na definição contemporânea,
ausente no dicionário, mas impregnado no mundo real.
Ressalto
aqui o sentido da palavra “engravatado” no contexto do texto. Não estou
generalizando, faço apenas uma referência aos “homens de negócio” por meio de uma
metonímia.
Fazia muito
tempo que não escrevia algo nesse estilo, meio dissertação/ crônica, meio
mistura de tudo.
Sei que
devo ter exagerado em alguns momentos, mas não seria eu se não houvesse pitadas
de euforia.
E mais uma
vez, antes de partir, não critico o capitalismo, uma vez que faço uso, neste
momento, de meu notebook para escrever neste blog, trago em questão os excessos
e a substituição desenfreada dos bens, que deveriam ser “duráveis”, e a sua
relação com a forte associação do consumo com o sucesso.
É isso!
Bye, fantasminhas! E você, garoto, espero que seja feliz!
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