domingo, 3 de maio de 2015

Estilo "Esquenta": uma mistura de tudo

Há alguns dias, deparei-me com um texto muito interessante compartilhado em uma rede social. Era um relato de um jovem menino, de 15 anos, se não me falha a memória, malabarista nos faróis de São Paulo nas horas em que não se encontra na escola. Ele contava sobre os tantos amigos envolvidos e perdidos para o tráfico e para o mundo do crime. Segundo ele, o aliciamento para tais atividades em seu bairro é bem frequente, e não ser uma vítima dele é um grande desafio. Imagino que para um jovem, como ele, morador de um lugar simples, com infraestrutura precária e provavelmente sem saneamento básico, ter a expectativa de um futuro bem sucedido não deve ser algo tão comum. Muitos adolescentes como ele, por falta de oportunidades, e até mesmo incentivo, veem a vida passar, e associam a “realidade” da TV, ou até mesmo dos motoristas que passam por eles, como algo distante, inatingível, mera ilusão para a verdade em que vive. Em contrapartida, muitos que buscam viver esse “outro mundo”, esse outro lado da rodovia, e desejam o “sucesso” da multidão engravatada, veem duas opções em sua comunidade: contribuir com a “boca local”, ou trabalhar em atividades consideradas lícitas e honestas. A primeira é posta, por seus aliciadores, como rápida e fácil, já a segunda é progressiva, crônica, exige paciência. Não cabe a mim julgar qual é a mais efetiva, correta ou incorreta, prefiro analisar números, dados. É um fato que muitos jovens morrem reféns do tráfico, seja em função do abuso da polícia, seja pelas mãos dos “donos da comunidade”. Afastando-me agora da prolixidade, volto ao assunto de fato. Esse pequeno malabarista disse que trabalhava ali, porque queria algo digno pra si, e não terminar como seus tantos amigos: em sangue. Ele dizia sobre querer estudar e trabalhar arduamente para ter uma “carreira de sucesso”, associado, por ele, como algo que será capaz de proporcionar-lhe carro importado e Iphone. Podemos perceber, a partir daí, que sua ideia de “sucesso” está claramente vinculada ao poder de compra, ao “ter”, tão valorizado em nossa sociedade. Entra aqui o meu questionamento: Em que raios de lugar está nossa sociedade? Achei lindo e fofo aquele relato até o momento em que percebi quão mesquinhos somos, como de forma fútil e estúpida, impomos, indiretamente, esse estilo de vida tão egoísta, seja com nós mesmos, seres humanos, seja com a natureza e mundo no geral, para aqueles que, simplesmente, não podem consumir da mesma forma, apesar de até desejarem. Não estou, de forma alguma, excluindo o poder de discernimento desse jovem, ou considerando-o incapaz de avaliar a própria escolha, tanto é que optou por outro percurso bem distinto de seus colegas. O fato é que é inegável a forte influência dos “engravatados” sobre aqueles que se encontram do outro lado do muro, do outro lado do vidro, do outro lado da vida. Não repugno as tecnologias e os bens de consumo, já que tais mercadorias facilitam, sim, nossas vidas, critico apenas seu uso descontrolado e a sua descartabilidade exacerbada. São tais atitudes que nos tornam mecânicos, dependentes do irreal, e, paulatinamente, menos humanos. São abusos que criam barreiras invisíveis e fazem do poder de compra item inerente ao sucesso na definição contemporânea, ausente no dicionário, mas impregnado no mundo real.
Ressalto aqui o sentido da palavra “engravatado” no contexto do texto. Não estou generalizando, faço apenas uma referência aos “homens de negócio” por meio de uma metonímia.
Fazia muito tempo que não escrevia algo nesse estilo, meio dissertação/ crônica, meio mistura de tudo.
Sei que devo ter exagerado em alguns momentos, mas não seria eu se não houvesse pitadas de euforia.
E mais uma vez, antes de partir, não critico o capitalismo, uma vez que faço uso, neste momento, de meu notebook para escrever neste blog, trago em questão os excessos e a substituição desenfreada dos bens, que deveriam ser “duráveis”, e a sua relação com a forte associação do consumo com o sucesso.
É isso! Bye, fantasminhas! E você, garoto, espero que seja feliz!


Nenhum comentário:

Postar um comentário